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Caminhada Lisboa-Fátima – etapas 4, 5 e 6
Boas caminhadas! Boas peregrinações!

Quarta etapa
A cada passo estamos mais próximos do destino, e hoje iniciámos a segunda metade do nosso desafio. Partimos da bela cidade de Santarém, outrora escolhida pelos Templários para ser a sua sede, por ter na sua toponímia as mesmas colinas que a cidade de Jerusalém, deixando para trás dois dos espaços mais marcantes da nossa história – o Convento de São Francisco e o Convento de Santa Clara – para partirmos para a etapa em que temos como companheiras de viagem as oliveiras, as azinheiras e os carvalhos.

Hoje começamos a ter contacto com o Parque Natural da Serra dos Candeeiros e os seus desafios de subidas e descidas e de poucas sombras com a companhia típica dos espaços rurais, quiçá lembrando momentos de outros tempos, em que recordamos tempos de infância passados na aldeia e relembrando a ligação que nós, portugueses, temos ao cultivo da terra.

Foi dia de encontros; encontros com os peregrinos de Fátima e as suas histórias; alguns de agradecimento por graças concedidas, e outros, vivendo desafios pessoais que esperamos consigam vencer.

Esta etapa tem uma particularidade muito especial, ao passar por Azóia de Baixo. Recomendo que tomem o vosso tempo para prestar uma homenagem a um vulto da nossa literatura. Detenham os vossos passos junto à Igreja-Matriz de Nossa Senhora da Conceição para recordarem Alexandre Herculano. Pois é: as cinzas ficaram aí depositadas durante 11 anos antes de serem transladadas para o Mosteiro dos Jerónimos.

O Caminho do Tejo hoje brindou-nos como destino com o Arneiro de Milhariças – uma terra com as suas preciosidades e de um acolhimento extremo.

Quinta etapa
Há uma sensação sempre ligada a quem se desloca a pé a Fátima, que é sentir o colo de mãe. Não é por acaso que Nossa Senhora de Fátima é sempre lembrada como a Mãe do Céu.

E este foi o mote desta etapa.

Começámos em Arneiro de Milhariças a tomar um café retemperador e a ter o melhor atendimento do caminho, com pão tradicional acabado de fazer e uns pães com chouriço de comer e chorar por mais. Estas pessoas que acolhem são eles os hospitaleiros do caminho.

E com este boost energético estamos prontos para percorrer mais um dia de caminho pela serra, como perder o olhar em paisagens verdejantes, avistar moinhos de vento e sentir a proximidade da água. Afinal, hoje estivemos perto da nascente do Alviela, e, claro!, do Centro de Ciência Viva, onde muito perto se podem encontrar algumas das grutas ainda com morcegos.

Mas hoje o dia era de desafios pessoais para cada um de nós, dado que, a cada passo, víamos a aproximação da serra, não sem antes nos perdermos na foto desta nova família junto ao mural do Peregrino de Minde, que nos relembra de que a resiliência é um dos factores de sucesso no nosso caminho.

E com este espírito abordamos a famosa subida da Serra de Santo António com os seus muros calcários e um declive acentuado. A cada passo cada um de nós buscou a melhor versão de si e resgatou toda a sua energia para trilhar a subida ao seu ritmo e no seu tempo, sem pressas. Este é o momento de superação individual para muitos de nós. E já diz o ditado: «grão a grão enche a galinha o papo», e passo a passo a subida foi superada por todos e em cada chegada existiu um momento de celebração que nos recorda de que o sucesso de uma equipa reside no acreditar no potencial de cada um.

Depois do merecido descanso para contemplação do desafio superado e da bela Minde, chegou o momento de fazer a descida. E tal como na subida no seu ritmo e no seu tempo, com uns pequenos momentos para aprender a descer em versão trail.

E tal como começámos, terminámos com a presença de uma guardiã do Caminho do Tejo, a fantástica Adelaide, que estava à nossa espera com um bolo caseiro acabadinho de fazer e água fresquinha. Que momento delicioso e de uma generosidade extrema!

Sexta e última etapa
E eis que o que há um par de meses era um destino distante se encontra hoje a 18 km. E nada como começar mais um dia com o acolhimento da Adelaide, para nos dar o mote para uma etapa leve e tranquila, ligando Minde ao Santuário de Fátima.

Cada passo nos permite apreciar os campos floridos pelas cores da Primavera, nesta etapa final pela serra de Aire com os seus arbustos baixos e estradas de terra. E eis que surge uma mistura de emoções em que para uns os passos tendem a ficar pesados por estar a terminar esta caminhada/peregrinação, e para outros são rápidos de chegar ao destino.

Observamos as grandes eólicas relembrando o potencial que existe nos recursos naturais deste nosso Portugal, e ao atravessar a A1 recordamos as aventuras e desventuras das 6 etapas deste nosso desafio.

… E é com este sentir e energia que vemos a placa do nosso primeiro destino: Fátima. E com ela, claro, a famosa sessão fotográfica, que faz parte da tradição de todos os que rumam a pé a Fátima. Estamos já tão perto e com vontade de que não termine...! Felizmente somos brindados com mais um mimo do caminho trazido pela Eliane, que nos recorda a importância de nos conectar com a nossa luz interna, e com a luz, que é a imagem de marca do Santuário de Fátima, na sua procissão de velas. Para os católicos vem-nos à memória o momento do baptismo e da bênção do círio pascal. Para os espirituais vem-nos à memória a importância de deixar a nossa luz interior brilhar e reconhecer o brilho das pessoas com que nos cruzamos.

E é neste sentir que os nossos passos nos levam ao Santuário de Fátima, e a esta ligação com um dos centros religiosos mais visitados do mundo.

Recordemo-nos de que o Santuário é um encontro de pessoas aos pés de Nossa Senhora, e como tal os caminhantes/peregrinos do Sul se juntam à onda laranja, dos caminhantes/peregrinos do Norte. E da diversidade se faz união. E desta união surgem novas histórias, experiências e memórias.
Para a noite ficam gravadas no coração de cada participante as suas intenções que os trouxeram a este local iluminado, pelos milhares de velas que acolhem a Procissão com a Nossa Senhora.

E, sim, chegámos todos bem!

E agora?
A nossa aventura pelo Caminho do Tejo guiados pela Maria Alice e pela Luísa, e com o acompanhamento logístico da Fátima e da Vitória chega ao fim. Muito obrigado!

Mas em todas as chegadas, há a celebração do termos conseguido, e minutos depois surge-nos a grande questão: “E agora?”
Vamos contar um segredo, mas não partilhem com ninguém, por favor. Vou dizer baixinho: parece que o Grupo Desportivo anda a “investigar” o Caminho do Mar para 2024! Como dizem os ingleses, fingers crossed!

Boas caminhadas! Boas peregrinações!

Por Rosa Ferreira, 16-08-2023




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