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A Rota dos Túneis
Uma jornada inesquecível
No coração de uma paisagem deslumbrante, onde a natureza e a engenharia se encontram harmoniosamente, encontra-se o lendário Camino de Hierro, um trilho que serpenteia por vales e montanhas, oferecendo aos aventureiros uma experiência única. Nesta crónica, vamos mergulhar numa jornada inesquecível pela Rota dos Túneis e pontes, deste fascinante caminho que une Freganeda a Barca d´Alva.
Passava pouco das 7.00h quando o autocarro iniciou a viagem. Fê-lo depois de apanhar os últimos “caminheiros”, na paragem de metro do Estádio do Dragão. Havia gente vinda de toda a parte; desde Lisboa a Cascais, passando por Vila do Conde, Povoa de Varzim, Porto, Esmoriz e Paços de Ferreira.
A primeira parte deste maravilhoso fim de semana, começou com uma visita ás adegas da encantadora vila medieval de Fermoselle, conhecida como o Pueblo das mil bodegas, mas que segundo o nosso guia, (Rafa) serão mais de 1 800.
Fermoselle, com suas ruas de pedra e casas caiadas de branco, oferece um cenário encantador. No entanto, é nas profundezas das bodegas que a verdadeira alma da cidade é revelada. Ao adentrar esses santuários do vinho, somos envolvidos por um aroma rico e tentador, que evoca séculos de tradição e paixão pela viticultura.
Enquanto explorámos as bodegas, fomos presenteados com a visão dos antigos métodos de vinificação, que resistiram ao teste do tempo. Rafa, o nosso guia, fez o papel de viticultor local, compartilhando o seu conhecimento e paixão, explicando como o clima, o solo e as técnicas tradicionais se unem para criar vinhos de sabor único.
A degustação de vinhos foi o ponto alto dessa jornada. Os sabores ricos e complexos dançaram nas nossas papilas gustativas, revelando camadas de frutas, especiarias e notas terrosas. Os vinhos tintos, produzidos a partir das variedades locais como a Tempranillo, seduzem com seu caráter profundo e encorpado. Já os vinhos brancos, elaborados com uvas como a Malvasía, trouxeram uma leveza e frescor que consegue refletir a essência do clima mediterrâneo.
Depois de visitarmos quatro bodegas era chegada a hora de almoço, que aconteceu num restaurante local, onde se destacaram os maravilhosos cogumelos que nos foram servidos. Os cogumelos têm um lugar especial na tradição gastronômica de Fermoselle, graças à abundância de florestas ricas e férteis ao redor da vila.
A simplicidade da receita permite que os cogumelos sejam os protagonistas, ressaltando as suas texturas delicadas e sabores únicos. O acompanhamento deste prato foi um pequeno pedaço de pão fresco, que, ao ser mergulhado no suculento molho de alho e azeite, aproveitou cada gota de sabor. O contraste entre a crocância do pão e a maciez dos cogumelos é um verdadeiro deleite para os sentidos.
Após almoço no centro da Vila, visitámos a Casa do Parque, o Centro Interpretativo do incrível Parque Natural das Arribas do Douro, que se encontra instalado num belíssimo edifício do Séc. XVIII, o antigo Convento de São Francisco. Assistimos a um filme e ouvimos atentamente as explicações que nos foram oferecidas por duas senhoras com um maravilhoso “portinhol”.
Era altura de rumarmos a Freixo de Espada à Cinta onde jantámos um agradável bacalhau e nos começámos a preparar psicologicamente, para a aventura do dia seguinte.
À hora marcada, seis e quinze da manhã, todos estavam a postos e passavam poucos minutos das 7.00h quando, já em Freganeda, iniciámos o nosso percurso pedestre. Os primeiros passos nesta trilha histórica transportam-nos para um mundo encantado. A vegetação exuberante envolve o caminho, com árvores frondosas e flores coloridas que pintam a paisagem com tons vibrantes. O canto dos pássaros ecoa pelos vales, acompanhando os passos animados dos caminhantes.
À medida que avançamos, uma série de túneis começa a surgir à nossa frente. São verdadeiras obras de arte da engenharia, cavados na rocha sólida que abraça o caminho. À primeira vista, os túneis parecem misteriosos, convidando-nos a explorar o desconhecido. Com lanternas acesas, adentramos essas galerias escuras, onde o eco das nossas vozes parece ganhar vida própria.
Cada túnel é uma experiência única. Alguns são curtos e envolvem-nos em escuridão por apenas alguns instantes, enquanto outros são mais longos, testando a nossa coragem e paciência. No entanto a cada túnel atravessado, somos recompensados com vistas panorâmicas espetaculares que se abrem diante dos nossos olhos. Vales verdejantes, rios serpenteantes e majestosas montanhas lembram-nos da grandiosidade da natureza. O chamado túnel dos morcegos, estava fechado, facto que nos obrigou a um esforço adicional, tendo que contornar a montanha.
À medida que continuamos a jornada, as pontes aparecem no nosso caminho. Estruturas magníficas de metal e concreto se erguem acima de vales profundos e rios furiosos. Ao atravessar cada ponte, somos agraciados com panoramas deslumbrantes. A correnteza do rio parece dançar sob nossos pés, enquanto as montanhas majestosas nos lembram a nossa pequenez diante da grandiosidade do mundo.
O Camino de Hierro é mais do que apenas um trilho; é uma viagem no tempo. Durante anos, esta rota serviu como uma importante ligação entre comunidades distantes, permitindo o comércio e a comunicação. A cada passo dado, podemos sentir as histórias e as vidas que um dia ocuparam esses mesmos trilhos.
Segundo informação que nos foi passada, esta obra hercúlea, foi conseguida com a participação em permanência de 2.000 pessoas, durante mais de 5 anos.
Enquanto prosseguimos, encontramos outros caminhantes, compartilhando sorrisos e histórias de suas próprias aventuras. O espanhol e o português fundem-se a cada instante, criando uma atmosfera de camaradagem e compreensão mútua. Todos nós estamos conectados pelo desejo de explorar e descobrir as maravilhas da natureza e da história.
Quando a jornada chega ao fim, sentimo-nos gratos ao Universo e somos invadidos por uma sensação de objetivo conseguido e desafio superado. Ao todo, percorremos mais de 18km, atravessámos 20 tuneis e 10 pontes. Que dia….
Terminada a aventura havia que recuperar forças com um almoço que nos foi servido em Barca d´Alva. Ainda o repasto não tinha terminado e já se falava no passeio que o Grupo Desportivo tem agendado para o próximo fim de semana.
Quando regressávamos ao Porto, os sócios não se esqueceram de elogiar a excelência da organização, tendo feito questão de oferecer um merecido aplauso a todos aqueles que nela colaboraram.
Por Rui Duque, 26-05-2023
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