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Ir para fora cá dentro!...
Mais um dia de convívio maravilhoso
Reza a história que, em certo dia, a caminho da Batalha, a rainha D. Leonor, há muito afligida por uma ferida que não sarava, terá aqui parado e confirmado as propaláveis maravilhas destas águas termais, mandando erguer, no ano seguinte, um hospital. Corria o século XV, e assim se apresenta, com toques de história de encantar, a fama de Caldas da Rainha, e a razão do seu nome.
A nossa primeira visita: o Museu da Cerâmica, criado oficialmente em 1983, corresponde a um desejo antigo da população das Caldas da Rainha, centro cerâmico de reconhecida tradição.
Este museu fica no Parque de D. Carlos I, no centro da cidade; descobre-se um jardim romântico com a mão de um caldense ilustre, o arquitecto Rodrigo Berquó, responsável pela revitalização do parque e pela criação de um lago artificial e de alamedas arborizadas. É considerado um dos parques mais ricos em biodiversidade do país. No interior do parque visita-se um dos espaços museológicos de nota da cidade.
Instalado na antiga Quinta do Visconde de Sacavém, adquirida para o efeito em 1981, o Museu da Cerâmica situa-se na zona histórica da cidade, junto ao Parque de D. Carlos I e próximo da actual Fábrica Bordallo Pinheiro.
São de realçar as decorações cerâmicas que ornamentam todo o conjunto onde se podem encontrar azulejos dos séculos XVI ao XX, estatuária, elementos arquitectónicos cerâmicos, como as gárgulas em forma de dragão ou de javali que se vêem nas fachadas do palacete e se aliam aos painéis de azulejo, frisos e cercaduras. Estas decorações conferem ao espaço do museu um aspecto peculiar que favorece a fruição de um importante património cerâmico, tornando-o também um local privilegiado de lazer.
O acervo do museu integra diversas colecções representativas da produção das Caldas da Rainha e de outros centros cerâmicos do país e do estrangeiro. As colecções compreendem peças da cerâmica antiga caldense dos séculos XVII e XVIII e núcleos da produção do século XIX e primeira metade do século XX. São de salientar os trabalhos da barrista Maria dos Cacos, autora de peças utilitárias antropomórficas, e de Manuel Mafra. Merece um especial destaque o núcleo de obras da autoria de Rafael Bordallo Pinheiro, um dos conjuntos mais representativos da produção do grande mestre da cerâmica caldense e que documenta a intensa laboração da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, entre 1884 e 1905. Apresentam-se também núcleos de faianças da Real Fábrica do Rato, de olaria tradicional e de produção local de escultura e miniatura dos séculos XIX e XX.
Em seguida visitámos a Fábrica Bordallo Pinheiro, construída em 1907 por iniciativa de Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, filho do mestre Rafael Bordallo Pinheiro.
Construída por trás do Parque de D. Carlos I, foi edificada perto de onde outrora esteve instalada a antiga Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha.
Foi precisamente nesta unidade industrial que Rafael Bordallo Pinheiro ocupou o cargo de director artístico entre 1884 e 1905, e onde se notabilizou enquanto ceramista.
Com o falecimento de Rafael Bordalo Pinheiro, em 1905, a fábrica é vendida em hasta pública e desmantelada.
É nesse contexto que Manuel Gustavo decide fundar a Fábrica de Faianças Bordallo Pinheiro e continuar o trabalho do seu pai, actividade que a nova fábrica mantém até aos dias de hoje.
Apesar da manutenção da produção cerâmica, o edifício original dá hoje lugar apenas à loja da fábrica e a um recentemente renovado espaço museológico dedicado a Rafael Bordallo Pinheiro, a Casa-Museu de São Rafael.
Desde há uns anos que a produção das peças da Bordallo Pinheiro é feita noutras instalações, mais modernas e com as devidas condições e dimensões, estando localizada na zona industrial das Caldas.
Independentemente do local da produção das peças, o antigo edifício da empresa não deixa de ser por si só um testemunho do legado de Bordalo nas Caldas, mantendo-se como um ponto de paragem obrigatória numa qualquer visita a essa cidade, pois continua a apresentar elementos decorativos únicos que nos remetem directamente para o grande mestre.
No coração da cidade, encontramos a Praça da República, também conhecida como Praça da Fruta. Com inícios que remontam ao século XV, este colorido mercado ao ar livre é o único que, em território nacional, se realiza diariamente. É montra da rica produção agrícola e gastronómica da região e local privilegiado para observar a Arte Nova nas Caldas. As fachadas românticas de azulejos circundam esta vibrante praça, que alberga ainda o histórico Café Central e a Capela de São Sebastião. Os interessados da arte nova podem partir da praça para a Rua do Dr. Miguel Bombarda, para poder apreciar mais exemplos deste movimento fazendo o Roteiro da Arte Nova.
Há lugares incríveis escondidos por trás de muros altos onde se adivinham jardins magníficos, mas tudo o resto… só mesmo entrando e experimentando!
A gastronomia apresenta duas grandes características: por um lado, a riqueza da sua doçaria, que inclui a influência conventual, da qual as trouxas das Caldas são exemplo, e as cavacas e os beijinhos; por outro, a riqueza marinha dos seus pratos típicos, pela proximidade da lagoa de Óbidos, que se mostra nas caldeiradas, no ensopado de enguia e no marisco.
Depois da visita pelos recantos e encantos da cidade, nada como uma boa refeição. Almoçámos no Restaurante Manel Vina, em Salir de Matos. É um restaurante com decoração típica de aficionado tauromáquico, óptimo para quem gostar de grelhados (carnes) e bacalhau assado na brasa; apresenta muito boa confecção, sobretudo nos grelhados; tem enchidos de elevada qualidade, nomeadamente as farinheiras. Gostei muito da salada de tomate.
No fim do almoço visitámos o atelier de Vítor Agostinho, um designer especializado em loiças cerâmicas slip cast e em vidro soprado. Como resultado de sua investigação sobre a produção em massa, ele criou um projeto chamado Mutant Moulds: uma pequena série em que ele usa as condições do ambiente como catalisador do potencial criativo. «Sou um designer com experiência relevante na indústria», diz. «O conhecimento da produção em massa, juntamente com a autoprodução, permite-me a oportunidade única de desenvolver novos métodos de conformação, criando novos processos que permitem variações formais de um mesmo molde.» O atelier de Vítor Agostinho situa-se nas Caldas da Rainha, que tem uma grande cultura e tradição de cerâmica.
Como sempre, esta deslumbrante visita de interesse do património foi acompanhada pelo Prof. Miguel Soromenho que nos ia transmitindo a cultura da região, e a gastronomia local.
Por volta das 16.30h regressámos a Lisboa, conduzidos pelo sr. Francisco, nosso motorista, muito prudente e responsável pela nossa segurança.
Acompanhados pelo amigo Jorge, do Grupo Desportivo, sempre atento ao nosso bem-estar, proporcionou-nos um dia de convívio maravilhoso.
Por Madalena Canteiro, 12-08-2022
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