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Via Mariana – Crónica da 10.ª etapa
Cotobade / Campo Lameiro.
São aventuras atrás de aventuras, obstáculos que se ultrapassam; mesmo quando parece impossível, a perseverança é imperativa. Somos uma verdadeira equipa de caminheiros!
Não vou começar com lamechices, mas adoro estes caminhos, esta aventura e esta equipa, que me ajudam a transpor a rotina, romper com a monotonia do dia-a-dia, e buscar novas experiências, novos desafios e novos caminhos.
Bom, continuando para o que realmente traduz o que foi a nossa etapa de Cotobade a Campo Lameiro, não o vou fazer em poesia, pois não tenho os dotes da Belinha, mas vou narrar a aventura desde Campo Lameiro até Cotobade.
Para quem vem a dormir, toca lá a acordar, pois se estavam à espera de uma história com princípio nas Setes Bicas, estão enganados – vão ter uma a começar em Espanha, no Campo Lameiro.
Entramos no autocarro, cansados mas felizes e com sensação de dever cumprido. Não há nada para se comer, pois não foi semana de aniversários… está mal. Lá fomos nós até ao Porto, na certeza, porém de que o caminho seria longo e de que faltavam 15 dias para a próxima “viagem”.
Finalmente, quando pensávamos que já não vinham mais subidas, lá vem mais uma até Campo Lameiro. É no final desta que avistamos o autocarro, que para nossa sorte estava mesmo junto à Panadería Mipa.
Ora, ao fim de aproximadamente 24 km, como não podia deixar de ser, repusemos as energias, uns com um pãozinho, outros com uma míni, e outros ainda ousaram beber um licor de café (por sinal muito saboroso e poderoso)!
Foi mais ou menos ao quilómetro 20 que entrámos numa viela perto de Praderrei para atravessar a aldeia por meio dos campos – qual não foi o nosso espanto, o caminho estava tapado por uma densa camada de silvas. A nossa team leader, Rosa Maria, pegou no seu bastão e começou a desbravar o caminho.
Outros Silvas a ajudaram, mas não foi o suficiente para convencer a restante equipa a fazer a travessia. Ninguém queria chegar a casa arranhado. Fizeram-se mais uns metros e imediatamente encontrámos os Silvas ligeiramente arranhados e à luta com algumas silvas que teimavam em ficar na pele. Tudo se resolveu, e nenhuma silva chegou ao Porto.
Mais uns quilómetros de caminho e encontrámos a igreja de San Xurxo de Sacos, onde finalmente pudemos carimbar a nossa “caderneta”. Sr. presidente, o seu carimbo fica para a próxima.
Depois de mais um caminho sobre asfalto, entrámos num velho caminho medieval que nos levou até à ponte nova sobre o rio Lérez. Continuámos o caminho subindo até nos depararmos com uma descida no meio da floresta junto ao rio Maneses. Este foi sem dúvida o mais belo caminho do dia, que depois de tanto asfalto nos surpreendeu com uma densa florestação iluminada pelas cores das árvores e pela água que corria sem rumo atropelando todas as pedras que se cruzavam no seu caminho.
Continuámos a desbravar caminho e a descer por asfalto até desviar para um estreito caminho que atravessa a vila de Arriba. Depois apanhámos um estradão que nos encaminhou até Trabazos, onde fizemos uma paragem técnica para o almoço. Este é o momento onde nos descontraímos, folgámos o estômago e alongámos o corpo (e por vezes também a alma!!). Desta vez não conseguimos um café por perto e não foi fácil até chegarmos lá.
Houve quem trocasse umas palavras em espanhol com uma senhora simpática que estava quase “à beira do abismo” (até nos fez lembrar o cãozinho que na etapa anterior caiu do muro depois de tanto ladrar). Pois a senhora não caiu e até nos ofereceu o que tinha: água e couves – e tudo graças à nossa Marta que mostrou os seus dotes de poliglota. Ainda bem que voltaste, Marta!
Daí seguimos para a estrada de novo até ao ponto mais alto do dia, a subida que nos leva dos 300 aos 470 metros de altitude. Um dia de Inverno soalheiro a iluminar uma paisagem de prados e árvores de folhas com as mais diversas cores que nos levam a parar e a registar a maravilhosa vista.
Antes de chegarmos a vila de Arriba, passámos pela bonita Capela de San Roque de Carballedo, pequena, mas de uma volumetria de harmoniosas proporções. À beleza de todo este lugar de Carballedo, segue-se a igreja de San Miguel de Carballedo e as velhas casas de campo, algumas senhoriais, é pena que elas estejam em ruínas e que não exista por perto um café aberto.
Já com 6km nas pernas, 4 da etapa anterior e 2 desta, aproveitámos a passagem na ponte da praia fluvial do Carballedo com alguma sombra e “casas de banho” de fazer inveja a qualquer caminheiro, para parar e fazer uma curta pausa… e – claro! – para alguns comerem a banana.
Após 2 longas horas de autocarro, eis-nos no café A de Tucho, em Peroselo, chegados ao ponto de partida – não desta etapa, mas do ponto final anterior. Um casal simpático à nossa espera e com as melhores notícias: o “nosso cão” (nome: Santi Ago), voltou para os seus donos. Ainda bem que a tecnologia evoluiu e os chips nos animais nos ajudam a encontrar os seus donos. Uns destes dias ainda se lembram de inserir também um chip nos caminheiros que se arriscam a ir por caminhos indevidos!...
Pés a caminho, que se faz tarde. Depois da fotografia do grupo, lá vamos nós ao encontro da trilha que temos de apanhar para dar início à nova etapa. Todos muito atentos às setas que a Sónia veio pintar na semana anterior – onde faltaram algumas, não sei se a tinta tinha acabado ou ela se distraiu a tirar fotografias. Viesse com a Célia, pois assim teria a orientação certa e corrigida.
E não é que após alguns quilómetros se juntou a nós novamente um cão!!?? Isto é um caso de estudo: como é que atraímos tantos cães? É que poderia ser um cavalo, uma ovelha ou até uma vaca, que há muitos por aí à solta, mas não, é o cão, o mais fiel amigo do homem (mas não em Espanha, aqui eles querem todos fugir de casa). Para bem de todos é melhor um cão, imaginem se fosse uma vaca… íamos perder a companhia da Adelina. Um dia destes vemos nas notícias do Wikiloc espanhol «Excursionistas detenidos por apropiarse de caninos.» Ainda bem que ao fim de algum tempo o cão resolveu voltar para trás e assim pudemos estar descansados até à próxima etapa.
Agora, sim, vai começar a nossa etapa. São 6.50h e começam a chegar alguns caminhantes, ansiosos por mais um dia, ao que tudo indica seco e com sol. Às 7.00h lá chega o pequeno autocarro de 27 lugares reservados para a “equipa-maravilha”. Depois de beijos e abraços lá se acomodam e começam alguns relatos de como foram os últimos 15 dias.
Então não é que não temos aniversários!? O barulho inicial da cozinha é estrondoso para os que querem dormir, mas assim que desligam as luzes e o ambiente passa a red zone, todo o autocarro fica num silêncio calmo que pode ser de paz e quietude para alguns, de reflexão e introspecção para outros. Ou então apenas para dormir.
Até Valença todos podem sonhar, Depois do pequeno-almoço o alvoroço vai começar. É hora de se aventurar, E a vida aproveitar.
Obrigada a todos pela companhia. Adoro os nossos caminhos!...
Por Manuela Castelo, 5-08-2024
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