Nos meses de Novembro e Dezembro visitámos duas exposições temporárias no Museu de Arte Antiga. A exposição “Primitivos Portugueses” (1450-1550) reuniu e colocou em confronto mais de 160 pinturas dos séculos XV e XVI, reconstituindo alguns dos mais belos retábulos portugueses desse período, esta exposição ensaia um panorama crítico, actualizado e de grande dimensão, acerca dos chamados Primitivos Portugueses e visa demonstrar como o estudo técnico e material desse património contribui decisivamente para renovar e aprofundar o seu conhecimento. Assinalando o centenário da primeira apresentação ao público, em 1910, dos Painéis de S. Vicente, que desde então passaram a constituir, nacional e internacionalmente, a obra “fundadora” e mais célebre da arte da pintura em Portugal, a exposição procura também documentar e questionar as noções de “originalidade artística” e de “identidade nacional” tradicionalmente associadas ao brilhante ciclo criativo dos Primitivos Portugueses, iniciado por Nuno Gonçalves e depois prosseguido e consolidado pelos nossos pintores da primeira metade do século XVI. Na visita às “10 Obras Primas” do Museu de Arte Antiga destaco a obra “Custódia de Belém“ que Vasco da Gama no regresso da 2ª viagem à Índia trouxe para Lisboa, em 1503. D. Manuel I mandou lavrar esta Custódia que ofereceu ao Mosteiro de Santa Maria de Belém (Jerónimos). Puramente arquitectónica e fortemente simbólica esta obra máxima de ourivesaria estabelece o elo entre o Velho e o Novo Testamento e transporta até ao presente a aúrea memória dos Descobrimentos portugueses. Interpretando as fontes documentais e a obra literária de Gil Vicente, o célebre dramaturgo quinhentista, há autores que confirmam ser ele o autor da Custódia de Belém.
Por António Vale, 25-12-2010
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